Fechados em solidariedade à Greve Geral: as razões

Publicado por Maurício

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Professores em greve

 

Hoje o Sebo Baratos da Ribeiro sacrificou 8 das suas tradicionais 12 horas de faturamento, em solidariedade à GREVE GERAL convocadas pelas centrais sindicais, conforme decisão da Plenária dos Movimentos Populares – fórum de discussões que tem cumprido o papel que, em São Paulo, o Movimento Passe Livre tem na mobilização política que vem ocorrendo desde junho.

 

A livraria Baratos da Ribeiro é uma empresa privada, portanto seus sócios, Maurício e Paulo, se dão ao direito de se posicionarem neste momento importante, da mesma forma que usariam seus carros numa carreata, se também se sentissem representados por ela.

 

Entendemos que o esse movimento reivindicatório popular passou por duas etapas: 1) uma inicial, “heróica”, objetivando a redução das passagens de ônibus (e pleiteando a longo prazo transporte público gratuito universal) e que foi duramente reprimida pelas forças policiais; e 2) uma segunda etapa, a partir do momento em que a Mídia reconheceu os excessos da repressão e a população entendeu o caráter democrático das passeatas e quais outras reivindicações estavam sendo feitas. Nesta segunda etapa houve certa “carnavalização” das manifestações, com os brasileiros aderindo em peso aos atos, mesmo que para gritar frases de efeito vagas ou muito abstratas (como “chega de corrupção” ou “mais dinheiro para a educação”), mesmo que pelos motivos errados (adolescentes em busca de adrenalina, amigos que gostam de se pintar de verde e amarelo e tomar umas cervejas na rua).

 

Acreditamos que é preciso iniciar uma nova etapa. Surgido de forma espontânea, esse movimento só conseguiu alcançar tamanha adesão popular e obter suas várias conquistas pontuais porque não foi encampado pelos partidos políticos. Uma batalha crucial foi vencida: o povo brasileiro despertou da inércia e recuperou a fé de que, se mobilizando, pode fazer com que o governo atenda às suas demandas. Mas para seguirmos em frente precisamos de uma representação organizada, capaz de traduzir os anseios em propostas concretas e encaminhá-las às instâncias apropriadas. Precisamos das associações de moradores, da imprensa, dos diretórios acadêmicos, das ONGs, das associações de classe, dos sindicados e até dos partidos.

 

A GREVE GERAL constitui, a nosso ver, a oportunidade para que esse Movimento se aproxime das forças políticas e instâncias de representação tradicionais. Uma oportunidade para que o movimento estudantil, responsável por muito do que aconteceu até agora, dialogue com a classe trabalhadora em geral.

 

Todo cidadão que ontem celebrou a mobilização popular precisa, de agora em diante, encontrar sua maneira cotidiana de contribuir para essas mudanças. Encontrando um grupo que o represente, com que possa se articular, ou até criando sua própria turma. Seja para agir no campo político partidário, seja dentro da sua área profissional, ou até em atividades filantrópicas, conforme suas convicções e habilidades. Não há mudança sem algum sacrifício pessoal. A reivindicação comum aos manifestantes de qualquer tom ideológico é o fim da corrupção. Em termos práticos isso significa um apelo para que o servidor público ou empresário sacrifique a oportunidade de ganho pessoal em nome do bem público e da ética. Então cada um de nós deve dar o exemplo, agindo da mesma forma. Mas dado o estado precário em que vivemos, isso é pouco: cada um deve dedicar ainda algum tempo e energia para convencer as pessoas à sua volta a fazerem o mesmo.

Se tem protesto va de bike

Sem a continuidade da mobilização, corremos o risco de que a turma de Brasília desfaça as conquistas obtidas até agora: entre os exemplos, o Senado derrubou ontem a PEC que proibia os senadores limitava a escolha de suplentes (em número, além de excluir cônjuges e parentes de sangue de até segundo grau, conforme notícia do Globo do dia 9), diminuíram a porção dos royalties do petróleo que seria destinada à educação e depois de Marco Feliciano retirar a proposta do que ficou conhecido como “Cura Gay”, outro deputado protocolou projeto de idêntico teor.

A Plenária dos Movimentos Populares, que tem se reunido no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, nos parece o órgão mais representativo desse movimento, e depois de termos acompanhado as duas últimas reuniões, podemos sobre afirmar que:

 

– o Movimento é de Esquerda, democrático e legalista. Ou seja: é aberto à participação de qualquer cidadão lá presente (seja ele de algum grupo organizado ou não), não quer interromper o governo da presidente Dilma e tem inspirações socialistas (mas dentro dele atuam diversos grupos, com diversos graus de compromisso com o marxismo ortodoxo, do total ao quase nenhum).

 

– são 4 os pontos fundamentais da luta do Movimento: 1) transporte público gratuito e de melhor qualidade, 2) contra privatização dos espaços públicos, 3) desmilitarização das polícias e 4) democratização da mídia. Sendo que os últimos dois pontos surgiram como reação direta à repressão contra as passeatas e à cobertura canalha feita, via de regra, pelos grandes jornais e emissoras de televisão.

 

Reiterando o que dissemos acima: achamos que cada cidadão deve se mobilizar à seu modo, na companhia dos grupos que melhor o representem. Um dos objetivos de fecharmos hoje é permitir que nossos funcionários façam isso. Acreditamos que existe uma ampla pauta de reivindicações que é capaz de unir grupos de diversas ideologias, para além da Esquerda tradicional.

 

Deixamos aqui o link de um único grupo, não para defender que este é melhor do que outros, mas porque foi este que acompanhamos até agora:

https://www.facebook.com/PlenariaDosMovimentosSociais

 

Finalmente, um exemplo quanto o Brasil precisa de reformas, através do depoimento de um amigo que é hoje Defensor Público da União:

“Interessante. Estou eu aqui, na DPU, a interpor recurso de apelação em uma ação judicial iniciada no ano de 1989, portanto há 24 anos. Em 1989 eu, com 9 anos de idade, brincava de Comandos em Ação (G. I. Joe) no jardim da minha casa, no interior de São Paulo. Pensar que deu tempo de eu atingir a maioridade, formar-me em Direito, ingressar em uma carreira pública e tomar ciência, agora, da sentença prolatada. Pergunto: o Poder Judiciário e nosso Sistema Processual está, ou não está, necessitando de uma urgente revisão e modernização?”

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Abaixo o link para o blog do gerente da livraria, Maurício Gouveia, onde ele publicou 2 artigos com uma visão mais pessoal sobre os recentes acontecimentos:

http://aptovazio.blogspot.com.br/

Liga da Justiça protesta

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